'NATAL: NOIVA DO SOL, AMANTE DA PROSTITUIÇÃO.'
“Eu escolhi esse tema porque moro em Capim Macio, na zona Sul de Natal, e vejo a cada esquina a prostituição. E em Ponta Negra, onde estudo, tem ainda mais. É lá onde se concentram os hotéis e os turistas. Em Ponta Negra estão os principais catões postais de Natal: O Morro do Careca e o turismo sexual. Isso precisa acabar”, defendeu Taiana.
É evidente o motivo pelo qual a cidade do Natal, é conhecida como Noiva
do Sol. Tudo se deve às belas praias aqui existentes, ao céu quase
sempre ensolarado, ao clima quente e convidativo. O inimaginável, no
entanto, é o que se esconde à noite nessas mesmas praias: o turismo
sexual, que dá a cidade a alcunha de Amante da Prostituição.
Nas praias, às sombras dos coqueiros, há mulheres e até garotas -
pasmem - à espera de que os turistas, principalmente os estrangeiros,
venham procurá-las. Uma realidade vergonhosa não somente para os
habitantes daqui, como eu, mas para todos os brasileiros. Sendo assim, é
coerente questionar: por que a indústria do turismo sexual tem um
crescimento exponencial que desafia toda sorte de organizações, bem como
o poder público?
O prostiturismo é, muitas vezes, estimulado pela nata natalense: donos
de hotéis, de agências de turismo, de empresas de táxi, todos lucram com
a prática, chegando até a anunciá-la mundo afora. Por mais
inacreditável que pareça, os cartões-postais da cidade, agora, vão além
do Morro do Careca e, à proporção que a publicidade aumenta, crescem
também as sórdidas estatísticas, segundo uma pesquisa da UNICEF: a
exploração sexual está presente em 930 centros urbanos brasileiros dos
quais 436 são cidades nordestinas, sendo Natal a líder, paraíso do sexo
fácil.
É muito comum ouvirmos comentários de que a culpa da prostituição é das
próprias mulheres submetidas a essa vida. No entanto, dificilmente é
citada a maior causa, provavelmente, de muitas se iniciarem nessa
profissão: a sobrevivência. Uma pesquisa realizada pelo setor de
Ciências Humanas da UFRN constatou que as mais movimentadas zonas de
prazer, dentre as 29 já conhecidas pela polícia civil no município, são a
Rua do Salsa e a Av. Roberto Freire, ambas situadas em um dos bairros
mais nobres da cidade, onde boa parte dos turistas se hospeda.
André Petry, renomado jornalista, em artigo para a revista Veja,
defende a regulamentação da prestação de serviços sexuais como profissão
efetiva, dizendo ser essa a única maneira de retirar as prostitutas da
míngua. Em minha opinião, essa não é a solução mais viável, pois não
basta dar condições de trabalho a quem usa a prostituição como meio de
sobrevivência. O que deveria ser defendido era a abolição desse tipo de
serviço, posto que é visto pela maioria como algo degradante e que fere a
dignidade de quem o pratica.
Vale ressaltar, também, que tal prática se associa concomitantemente à
violência, ao uso de drogas, o que é confirmado pelos dados da pesquisa
da ASPRORN (Associação dos e das Profissionais do Sexo e Congêneres do
Rio Grande do Norte). Segundo ela, mais da metade das prostitutas
utilizam algum tipo de psicoativo, entre os quais estão o álcool, o
crack e a cocaína. Além disso, essa mesma parcela já sofreu ou infligiu
algum tipo de violência. Um dado arbitrário à ética.
Infelizmente, frente a essas circunstâncias, está o descaso de parte da
sociedade natalense e do poder público para com a problemática. Penso
que esse desinteresse se dá devido à relação direta que a cidade do
Natal tem com a indústria do turismo sexual. E, em razão do turismo ser a
principal atividade econômica da capital, o raciocínio é simples:
garotas de programa atraem visitantes que, por sua vez, injetam dinheiro
na economia.
A prostituição é um problema de ordem social e coletiva e, nesse
contexto, é preciso a formação de uma aliança entre os cidadãos
potiguares e as instituições públicas responsáveis no intuito de que
sejam elaboradas medidas que evitem a entrada de novas mulheres e jovens
nesse mercado ilícito, tais como a fundação de mais escolas técnicas,
no ímpeto de profissionalizá-las.
Outra medida a ser tomada seria a fiscalização do prostiturismo pela
polícia, além da intensificação do cumprimento das leis que combatem a
questão. Sendo assim, unidos - Estado e sociedade - possivelmente,
poderemos evitar a consolidação do título de "Amante da Prostituição" e
invalidar o dito do grande mestre Câmara Cascudo de que o potiguar só
está de acordo quando ouve ou narra anedotas.
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